terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Destino X Trânsito

Sexta-feira. Cinco horas de uma tarde chuvosa. Tinha sido sorte encontrar um lugar para sentar dentro do ônibus lotado, que andava lentamente pela avenida principal, provavelmente por causa do trânsito, mas ela gostava de pensar que era o destino que fazia o ônibus andar tão devagar. O vidro ao lado estava embaçado, o que se pode fazer? Desenhar; e sorrir ao lembrar de como o pai odiava quando costumava fazer aquilo no vidro do carro.
Pegou-se escrevendo o nome dele; junto ao dela. Droga! Era para ter esquecido. Mas sempre acontecia: no espelho do banheiro, sempre que tinha uma folha em branco e uma caneta e agora até no vidro do ônibus. O nome dele sempre surgia, surgia junto com os pensamentos que viajavam por suas mãos, seus cabelos, sua pele, seu rosto, seu toque e todas as lembranças. Fazia 1 ano, só isso? Talvez mais, com certeza parecia mais. Lembrava o quanto odiava ter que passar um dia sem ele. Tinha tanta convicção que estariam juntos para sempre que a noção de que o para sempre não existiria ao lado dele não estava se acomodando em sua mente, muito menos em seu coração.
Quando tinha sido a última vez que tinha chorado? Ontem? Hoje de manhã? Era como se estivesse apenas esperando que o dia passasse para poder dormir e assim amanhecer um outro dia, do qual esperaria apenas o fim. Não conseguia viver, o que se pode fazer? Existir; e sentir-se culpada ao lembrar de como o pai odiava vê-la triste a cada visita semanal que era obrigada a fazer.
Passou a mão pelo vidro apagando o que tinha escrito, foi então que ela viu um garoto parado no ponto de ônibus. Ficou surpresa ao vê-lo, parado ali, no meio daquela chuva que não dava descanso. Ela o reconheceu, de repente aquela pessoa absorveu toda sua atenção. Ela se perguntou se ele pegaria o mesmo ônibus ou se estaria lotado de mais. A chuva não parava. A vontade de falar com aquele misterioso rapaz só crescia e foi ai que algo mudou; ela resolveu parar de esperar que o destino tomasse alguma providencia e desceu do ônibus. Algum tempo depois o trânsito foi melhorando e tudo o que eu pude ver foi o abraço.. um abraço longo e apertado; que se me perguntarem, valeu ter se molhado.

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